Por que há tanta falta de casas se a população não aumentou muito?
Esta é uma pergunta que muitos fazem — e com razão. À primeira vista, parece contraditório: se o número de pessoas não cresceu muito nos últimos anos, por que é que continua a ser tão difícil encontrar casa para comprar ou arrendar?
A resposta não está apenas na quantidade de pessoas, mas sim na forma como vivemos hoje, nas dinâmicas sociais e nas escolhas económicas e políticas que foram feitas ao longo dos últimos anos. Vamos por partes:
1. Mudança na estrutura das famílias
Hoje em dia, há mais pessoas a viver sozinhas, mais divórcios e mais casais sem filhos. Isto significa que o número de agregados familiares aumentou, mesmo que a população total se mantenha relativamente estável. Se há mais famílias, mesmo que menores, então há necessidade de mais habitações.
2. Procura concentrada em certas zonas
A maioria das pessoas quer viver nas mesmas áreas: centros urbanos, zonas costeiras, localidades com boa oferta de transportes, escolas e serviços. Isto gera uma procura enorme em locais específicos, criando escassez e inflacionando os preços, enquanto noutras zonas existem imóveis disponíveis, mas com menor procura.
3. Pouca construção nova e acessível
Durante a última década, a construção nova foi muito reduzida e, quando existiu, foi muitas vezes orientada para segmentos de luxo ou para investidores. A oferta de casas acessíveis para a classe média e para arrendamento ficou para trás. Agora, estamos a viver os efeitos dessa falta de planeamento e investimento.
4. Casas que existem, mas não estão disponíveis
Estima-se que existam muitos imóveis devolutos ou em ruínas, outros presos em processos de herança complicados, ou simplesmente não colocados no mercado. Estas casas "existem" no papel, mas não estão realmente disponíveis para habitação.
5. O impacto do turismo e alojamento local
Em várias cidades e zonas costeiras, muitos imóveis foram transformados em alojamento local, reduzindo ainda mais a oferta disponível para quem quer viver nas cidades. Esta conversão, somada ao aumento do investimento estrangeiro, retirou muitas casas do mercado tradicional.
Em resumo:
A falta de casas não é apenas um problema de números populacionais, mas sim de como vivemos, onde queremos viver e o que foi feito (ou não feito) para preparar o mercado para essas mudanças. É preciso repensar políticas de habitação, apoiar a construção acessível e promover uma ocupação mais equilibrada do território.
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